De recursos básicos, como alimentação e moradia, a viagens fora do programa de estudos, a jovem ‘nômade’ Carolina Lima, de 22 anos, conquistou uma bolsa integral para estrangeiros ampliarem o conhecimento sobre áreas acadêmicas específicas enquanto desbravam o mundo.
Há cerca de um ano, Carolina Lima, de 22 anos, tornou-se uma “nômade”, como ela mesma se intitula. Ela já viajou por países da América do Norte, Ásia, Europa e África, experiência que só foi possível com a ajuda de um projeto experimental em que jovens de todo o mundo são convidados a mergulhar em culturas distintas.
O intercâmbio era um sonho distante, já que o custo seria algo impossível para a estudante. Foi então que ela aplicou para uma bolsa internacional e, surpreendentemente, ganhou o benefício integral. Em entrevista a Marie Claire, ela reflete sobre a jornada de uma brasileira no exterior e conta como conseguiu o benefício.
“Eu já tinha tentado várias oportunidades fora do país. Do nada, minha vida virou de cabeça para baixo e para melhor. Eu apliquei para o programa sem muitas esperanças. Em uma sexta-feira, enviei documentos para comprovar que eu precisava do auxílio. No domingo, passei por uma entrevista e, na segunda-feira, descobri que tinha passado. Mesmo sem saber muito sobre o que me esperava, eu fui. Pedi demissão do meu trabalho na quinta-feira e comecei minha jornada.”
“Tudo é custeado pela instituição, dos recursos mais básicos às viagens que eu desejo fazer além do programa”
A “jovem nômade” conquistou a bolsa através da Baret Scholars, um programa de intercâmbio pós-ensino médio ainda em fase experimental, que tem por objetivo que seus estudantes conheçam diferentes áreas profissionais e a aplicação delas em diversos países.
No caso de Carolina a instituição oferece bolsa integral para viagens de intercâmbio cultural, moradia, despesas com alimentação e também lazer. No entanto, existem bolsas parciais de 50%, onde estudantes devem escolher entre o custeio dos estudos ou das viagens. O recurso vem dos fundadores, que são também líderes de diversas áreas formados nas principais instituições de ensino do mundo, como Harvard, Princeton University e Yale. São US$ 1,8 milhão (cerca de R$ 10 milhões na cotação atual) destinado aos alunos.
Para ingressar, a estudante explica que foi preciso de uma carta de solicitação da bolsa, um vídeo de apresentação e, após a aprovação para a segunda fase, uma entrevista com avaliadores da instituição. Foi através do processo que as condições socioeconômicas foram analisadas e ela foi escolhida para receber o suporte integral.
“Vamos passar um ano letivo norte-americano nesse intercâmbio, vai até maio. Através do curso, eu passei por Los Angeles, Berlim, Paris, Marrakesh, Nova Delhi, cidades da África do Sul e até mesmo por Manaus. Nos dias livres que temos, é possível também visitar outras cidades do país, o que eles custeiam para mim. Tudo é pago pela instituição, dos recursos mais básicos às viagens que eu desejo fazer além do programa”, explica Carolina.
E não é somente uma viagem a passeio. A viajante conta que é preciso também estudar bastante para se manter no programa, no qual alunos devem escolher, antes de ir, uma modalidade acadêmica para ser estudada, como Política, Ciências da Natureza, Cinema ou Cultura. Carolina escolheu Cinema e a base do curso é em Los Angeles. Enquanto transita pelos demais centros do curso, ela participa de workshops online sobre a área escolhida.
“O privilégio ainda é branco e dos alunos do ‘primeiro mundo’”
Ao longo dos meses em que passou fora de casa, Carolina descobriu prós e contras das culturas com as quais interage. Para além dos costumes locais de países pelos quais passou, ela também nota comportamentos distintos dentro dos dormitórios, onde convive com colegas de várias partes do mundo.
“Tem o grupinho dos chineses, dos europeus, dos latinos e dos africanos. É mais difícil de interagir com grupos diferentes, mas não é impossível. Só é preciso se dispor a entender alguns limites culturais e aprender com eles, como eles também aprendem comigo”, pontua.
Outra análise sobre divergências culturais que Carolina faz é a respeito de como moradores locais lidam com a diversidade. “São graus de preconceito diferentes para cada um de nós. Há 50 etnias no programa. Em determinados lugares, o preconceito começa no aeroporto. Quando se é europeu ou norte-americano, dificilmente fazem perguntas”.
“Eu, como brasileira, sei que será mais difícil passar pela imigração e é mais complicado ainda para colegas da África. Isso quando eles conseguem o visto. A equipe já teve que remanejar viagens deles porque o país não autorizou a entrada. O privilégio ainda é branco e dos alunos do ‘primeiro mundo’.”
Como se tornar um estudante nômade?
Com o passar do tempo, Carolina aprendeu manobras para lidar com a saudade que sente da família e de casa. Hoje, ela se sente apta a incentivar outras pessoas que tem o mesmo sonho que ela a deixarem a zona de conforto e buscarem oportunidades no exterior.
“Sou desapegada, mas é claro que sinto falta de casa, do Carnaval e sei que vou ficar muito triste de não poder ver a Lady Gaga em Copacabana. Mas vejo essa saudade como algo que me aproxima do Brasil e me dá orgulho de ser brasileira. Não perder a essência cultural é muito importante para quem é nômade”, pontua.
Ela também dá dicas sobre a aplicação, pontuando que receber mais respostas negativas do que positivas é comum: “Eu recebi muitas negativas antes de ser aceita. Por isso, aconselho outras pessoas a entenderem quais são seus pontos fortes e investir neles durante a aplicação. Quando você entende qual é sua área de interesse e no que você é bom, fica mais fácil de conseguir entrar nesses programas”, aconselha.