Acessar a internet utilizando luz? Sim, isso não só é possível, como está cada dia mais próximo da nossa realidade. Em breve, usufruir desse tipo de conexão será tão simples quanto quanto acender uma lâmpada de LED. E o Brasil tem pesquisadores que estão na diateira dessa inovação, que promete velocidade muito acima do que vemos hoje em dia.
Estamos falando de alcançar Terabits por segundo (Tbps)
Letícia Carneiro de Souza, pesquisadora do laboratório WOCA (Acesso Convergente Óptico e Sem fio, na sigla em inglês) do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações)
Ela é uma das especialistas envolvidas na pesquisa do sistema de VLC (Comunicação por Luz Visível, na sigla em inglês). Ou seja, ela estuda a melhor forma de transmitir dados por meio da luz que você usa para iluminar a sala da sua casa.
Por tratar apenas da luz visível, o VLC é um conceito mais restritivo dentro do grande campo do chamado “Li-Fi”, que analisa a transmissão de informação por qualquer tipo de luz —do LED, visível, ao infravermelho, não visível para seres humanos.
Já o Li-Fi, por sua vez, é uma adaptação do nome do primo famoso, o Wi-Fi. Ela é a tecnologia que permite conectar dispositivos como notebooks, desktops, smartphones e outros gadgets e periféricos à internet sem a necessidade de conectar fios. Isso é feito por meio de um protocolo de comunicação que utiliza ondas de rádio para transmissão de dados de modo “wireless”, termo em inglês que literalmente significa “sem cabo”.
Tecnologia para o futuro 6G
Não é de hoje, que a humanidade conhece a ligação entre luz e dados. Por voltar de 1880, o cientista Alexander Graham Bell já conduzia nos Estados Unidos o primeiro experimento de VLC que se tem notícia no mundo.
O interesse para aplicações contemporâneas de conexão retornou, porém, há menos uma década.
O interesse por esse sistema foi retomado nos últimos anos devido às vantagens de altíssima velocidade e robustez à interferência eletromagnética, por ser baseada em luz
Arismar Cerqueira Sodré Junior, coordenador do Laboratório WOCA
A velocidade pode ser 100 vezes a do Wi-Fi. A largura de banda também é maior, avaliam especialistas da área.
Em testes rodados em 2020 no Inatel, os pesquisadores alcançaram transmissões com velocidades de até 20 Gbps para as redes 5G. Os estudos continuaram e agora consideram gerações futuras de conectividade. É o caso do 6G. Previsto para 2030, a sexta geração de comunicação móvel trará uma complexidade que poderá ser solucionada pelo VLC.
Quando pensamos no 6G e nas próximas gerações, pensamos também em frequências mais altas. Quanto maior a frequência, mais complicada fica a propagação da onda
Letícia Carneiro de Souza, pesquisadora do WOCA
Nesse cenário, o VLC entrará para garantir menor atrito no acesso.
Além disso, a comunicação por luz visível poderá expandir a cobertura para locais internos. Escritórios, fábricas e quaisquer lugarem dentro de casas.
Bastará ao usuário ficar embaixo de uma luminária acesa para acessar em seu smartphone a velocidade e a largura de banda proporcionadas pelo novo protocolo.
Alta velocidade com obstáculos
Souza explica que alta velocidade e maior largura de banda são possíveis devido ao LED ser composto por três tipos de luz RGB: vermelha, verde e azul.
“O olho enxerga uma luz branca, mas o LED RGB possui três cores que podem ser usadas para transmitir dados. Cada cor tem uma taxa de transmissão. Ao combiná-las, é possível chegar a terabits por segundo.”
Em termos técnicos, um dos principais desafios é a modulação. Ou seja, o processo de transformar dados em luz para poderem ser transmitidos. Na prática, o processo é o mesmo usado para a fibra óptica. Esses cabos são filamentos fabricados de plástico ou fibra de vidro transparente para que a luz se propague por meio deles.
A principal diferença é que, no caso da [transmissão por] luz, não há um meio confinado entre o transmissor e o receptor. Esse meio é o ar
Letícia Carneiro de Souza
É possível ainda que um facho de luz interfira em outro, que esteja transmitindo internet, e a conexão seja prejudicada. Esses desafios precisam ser resolvidos antes de a tecnologia ser disponibilizada ao público geral por meio de produtos comerciais.
E se você está se perguntando quanto tempo a adoção do VLC levará para acontecer, saiba que ainda não há uma data definida. Mas essa nova forma de conexão não deve demorar muito a chegar.
“Já temos hoje produtos comerciais que, inclusive, testamos em laboratório. É uma tecnologia que está ganhando força e dando os primeiros passos na indústria. É uma questão de tempo até termos um transmissor Li-Fi dentro de casa, da mesma forma como aconteceu com a internet ultrarrápida via fibra óptica”, afirma Souza.