Sob cuidados paliativos, ela preparou velório e doença regrediu: ‘Milagre’;

Natural de Natal (RN), Priscila Souza tinha 29 anos quando descobriu um câncer na mama com metástase óssea e foi logo encaminhada para os cuidados paliativos, que ajudam a gerenciar a dor e cuidam da saúde mental também.

Aos 34, ela conta não fazer planos longos, já deu diretrizes sobre seu velório, mas diz não passar por sua cabeça se despedir. “Eu sei que tenho que viver o hoje, ser grata e estar junto a minha família.”

No dia em que falou, recebeu a notícia de que a doença regrediu, e que a médica levou seu caso para um congresso sobre o tema. “Ela disse que estar aqui hoje é um milagre de Deus.”

A seguir, ela conta a sua história:

“Eu era acompanhada por uma mastologista desde os 28 anos, porque sentia nódulos muito pequenos na mama, mas ela sempre dizia que não era nada. Quando descobri, já estava com um tumor grande.

Cheguei no hospital numa cadeira de rodas gritando de dor. Exames apontaram que tinha metástase óssea no corpo todo.

Eu não sei explicar o sentimento que tive naquele momento. É muito assustador. Eu não entendia nada sobre metástase ou tratamento paliativo. E nem queria ficar pesquisando, por medo mesmo. Dizem que a expectativa de vida é de cinco anos, então só procurava a cura, queria saber quando ia fazer a minha cirurgia, terminar a quimioterapia.

A palavra paliativo é pesada, porque entende-se que você entra ali para se despedir, mas com o tempo fui vendo que não era isso tudo que as pessoas falam. Ali a gente aprende muito sobre a finitude da vida, que aqui é uma passagem, e que o diagnóstico de câncer metastático não é o fim como as pessoas falam. Lá tenho muito apoio psicológico, e tomo medicações.

O tratamento tem seus momentos altos e baixos, mas me considero uma pessoa bem forte e positiva. Às vezes a gente tem uma progressão e chora, mas eu entendo que todos nós vamos partir, embora ninguém queira. Te digo que nem no meu pior momento passou pela minha cabeça que vou morrer. Mas o que me conforta é ter uma rede de apoio, meus pais e meu esposo que não sai do meu lado.

Nesses cinco anos de tratamento passei por quatro cirurgias. Ano passado fiz mastectomia radical, e não pude colocar prótese. Tive crise de ansiedade quando o médico tirou o curativo e vi um buraco no meu peito. E já tinha feito uma histerectomia. Mas confesso que estou de boa de verdade. Não me sinto menos mulher por isso.

Sempre quis ter um filho, meu esposo também, mas a partir do momento que entendemos que se tratava da minha vida, aceitamos o destino de termos apenas nossos dois cachorros. É porque não era para ser mesmo.

Apesar do estado ser péssimo, como minha médica mesmo disse nos primeiros exames, em nenhum momento pensei em me despedir da família e dos amigos. Até porque ninguém gosta de conversar sobre isso. Tenho amigas paliativas e elas também têm medo de falar sobre morte.

Mas já deixei instruções de como gostaria que fosse meu velório, apenas com a família e sem pessoas olhando.

Recentemente os exames mostraram que as metástases sumiram do meu corpo, mas tenho que fazer outros exames ainda, e não posso parar o tratamento porque não é cura, e sim uma remissão. Digamos que o câncer está dormindo, quietinho.

Minha médica nunca falou quanto tempo de vida eu tenho, mas recentemente eu demonstrei curiosidade em saber meu prognóstico, até porque no começo eu tinha incontáveis metástases nos ossos. Ela apenas respondeu que estar aqui hoje é um milagre de Deus.

Na verdade, ela sempre fala que sou um milagre, porque desde 2019 uso a mesma medicação. E para um paciente paliativo isso é raro, porque a gente sabe que a doença é muito agressiva, e à medida que evolui você troca de quimioterapia. Ela disse que já até levou meu caso para um congresso.

Não faço planos para o futuro porque hoje entendo que o futuro é agora. Se tiver que fazer uma viagem, é para um mês no máximo. Nada de querer adquirir bens materiais como uma casa. Prefiro estar com a família e amigos.

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