Ao topo de um monólito de rocha calcária de 40 metros de altura reside um dos maiores mistérios da História e arquitetura do último milênio: como esta igreja foi parar lá?
Batizado de Pilar de Katskhi, o complexo com templo e mosteiro da Igreja Católica Ortodoxa na Geórgia, país localizado na Europa Oriental, atrai fiéis e curiosos, seja por acreditarem que o local é realmente um “pilar de vida” e um “símbolo da verdadeira cruz” de Cristo — como dizem lendas locais reportadas pelo jornal The New York Post — como também por se maravilharem com o fato de que parece impossível que monges ou leigos o tenham construído por volta dos séculos 9 e 10.
Longe da Terra, perto do paraíso
O mistério é, de fato, parte do fascínio que exerce e há quem a considere a igreja mais sagrada do mundo justamente por ser remota. Até hoje, não há registro que explique sua construção exatamente e ela esteve abandonada até ser redescoberta por um time de montanhistas que escalaram a rocha em 1944.
Na época, Alexander Japaridze e seus colegas relataram terem achado os resquícios de duas igrejas que teriam sido erguidas nos séculos 5 e 6. Desde então, múltiplos estudos e análises divergem a respeito das datas de construção, mas análise do Museu Nacional Georgiano coloca sua origem entre os séculos 9 e 10, ao menos. Ou seja, há mais de mil anos.
Em sua obra, “Descrição Geográfica do Reino da Geórgia”, ele escreve: “Há uma rocha dentro de um desfiladeiro em pé como um pilar, consideravelmente alta. Lá há uma pequena igreja no topo da rocha, mas ninguém sabe como subir, nem conhece alguém que saiba.”
Não existem relatos de como era a vida monástica em Katskhi, mas acredita-se que ela era conduzida por monges estilitas ou “os monges dos pilares”, segundo a BBC. A ordem se dedicava a uma vida asceta, de total abandono aos prazeres mundanos e dedicação completa à espiritualidade através, entre outras coisas, do isolamento. Ou seja, rezar no topo da rocha os distanciaria literalmente da terra e suas tentações.
A igreja do pilar é dedicada a um monge conhecido como São Máximo, o Confessor, antigo ajudante do imperador bizantino Heráclio que justamente deixou para trás o conforto de quem vive às margens do poder em Constantinopla para ingressar na vida religios.
“Não sabemos por que exatamente os monges pararam de escalar o pilar na época dos otomanos. Apesar da invasão, na Geórgia Ocidental, o Cristianismo não estava em perigo de ser abolido”, opinou o pesquisador de Tbilisi, Nati Khizanishvili, do Centro Nacional de Manuscritos Korneli Kekelidze, à BBC britânica.
Pilar tem mais do que santuário
Situado a cerca de 200 km da capital, Tbilisi, o pilar de Katskhi tem o monastério em sua base — restaurado em 2009 — e uma pequena capela em sua lateral direita, mas após a subida até a igreja de São Máximo, outras dependências são encontradas. Segundo a história, há uma câmara funerária no monólito, uma adega de vinhos, uma divisória e três celas eremíticas onde monges que cuidavam da paróquia viviam.
Apesar de se conhecer pouco sobre o passado, sabe-se que hoje há quem encare uma viagem de ônibus ou carro de Tbilisi até Katskhi para ver de perto o local sagrado, além de uma trilha de 20 minutos.
Religiosos que hoje moram no mosteiro na base do pilar encaram uma subida diária de 20 minutos em uma escada fina de metal na lateral da rocha para fazer suas orações mais próximos a Deus. Até 2015, encontrava-se por ali também o padre Maxime Qavtaradze, que passou boa parte dos seus últimos 20 anos de vida ali e foi o último monge a viver no topo do pilar. Ele também construiu uma nova igreja na base da rocha em 1995, para Simeão Estilita.
Apesar de os turistas virem ver de perto o pilar, eles não podem subi-lo atualmente, apenas os monges. A proibição foi colocada em vigor em 2018 pelo Patriarca Ilia 2º da Igreja Ortodoxa Georgiana, e o intuito seria preservar a construção e “manter o local sagrado”. Além disso, nenhuma mulher na História jamais foi autorizada a ir até o topo de Katskhi.
A Igreja parece reconhecer, no entanto, a importância de Katskhi para aproximar a população e até os curiosos da fé e libera a subida até o primeiro andar do pilar, onde há uma cruz do século 6 e uma pequena área para acender velas e fazer orações — um dos mais antigos símbolos do Cristianismo existentes até hoje.
Há planos ainda para acrescentar, à sua base, um novo centro de visitantes e uma pequena loja de lembrancinhas para os peregrinos, segundo a CNN. A igreja de São Simeão Estilita, no térreo, também possui belos afrescos e artefatos religiosos e está aberta aos visitantes que querem fazer ali suas orações.