Uma mulher indígena invadiu nesta quarta-feira (5) o palco em que Luciano Huck e dois dos principais executivos da Globo faziam uma apresentação sobre a produção de conteúdo da emissora na Rio2C –maior evento de economia criativa do país, que acontece até domingo no Rio de Janeiro. Com cocar e uma espécie de manto feito de palha, ela agradeceu a Huck por ter lhe ajudado. “Oito anos atrás eu fui demitida grávida, e você e sua mulher [Angélica] mandaram um quarto pra minha filha. E pouco depois eu fui posta para fora da casa e perdi meu esposo, assassinado”, contou….
Em seguida, a mulher fez um apelo por mais visibilidade para os povos indígenas na programação da maior rede de TV do país.
A indígena não se identificou ao microfone, mas é possível ver em seu crachá que ela se chama Bekoy Tupinambá. Na internet, também se apresenta como Jennyffer Bransfor Tupinambá, sócia da agência BND Digital e “ciberativista no enfrentamento ao abuso e exploração sexual infantil”. Nervosa, ela fez um discurso um tanto desconexo na Rio2C.
“Vocês falaram de muitos aqui, e eu fiquei torcendo para que falassem de nós, povos indígenas. Porque eu tenho a primeira agência de marketing digital social formada por mulheres indígenas, mas o meu convite eu tive que correr atrás, porque ninguém sabe da minha história”, iniciou. “Mas não é a minha história, é a história de 1% que são os indígenas hoje. Nós somos os donos dessa terra, mas nós não queremos invadir nem tomar terra de ninguém”, disse a mulher, que se identificou apenas como pertencente ao povo tupinambá de Olivença, distrito de Ilhéus, no sul da Bahia.
“Então, Luciano, eu vim aqui te agradecer. Mas aquela mulher desesperada, que foi demitida grávida, que não sabia o que fazer, era uma mulher indígena, povo tupinambá de Olivença, o último povo a ser reconhecido, e hoje está trazendo o primeiro artefato repatriado indígena, que é o manto tupinambá”, continuou, referindo-se à peça que estava em museu da Dinamarca. “O meu povo merece respeito. Não é porque a gente não tenha o estereótipo do indígena do norte, que nós do Nordeste, do segundo Estado que tem mais indígenas nesse país, não merecemos o olhar da Globo, não merecemos o olhar de Luciano Huck. E aí eu pergunto: Luciano, o povo tupinambá de Olivença te pergunta: o que você tem a favor da gente? Você pode nos ajudar nessa causa? A gente precisa de você”, concluiu.
Huck ouviu toda a fala da mulher e disse que quem havia lhe entregado o microfone é “quem toca a TV Globo hoje”. “Então sua voz será sempre ouvida. Em nome da TV Globo, os povos indígenas originais são e sempre serão respeitados,ouvidos e terão suas vozes reconhecidas”, falou o apresentador. Apesar do susto, Amauri Soares também tirou a invasão de palco de letra: “Eu acho que tudo o que a gente falar e fizer é pouco perto da enorme reparação que nós temos como sociedade em relação ao seu povo. Eu queria te dizer que a gente tem muito orgulho de estarmos há dois anos produzindo, parando toda nossa programação uma noite do ano, para exibir o Falas da Terra, que é um conteúdo totalmente criado e produzido por indígenas”, acrescentou.
“Por causa do Falas da Terra, nós conseguimos ter contato com criadores de televisão indígenas , que hoje estão contribuindo e produzindo outros conteúdos pra gente. E, desses filmes que a gente vai entregar todo mês, um está sendo escrito por um autor indígena. Terá uma visão indígena do Brasil de hoje. Nós estamos abertos, estamos interessados, queremos andar juntos com você”, afirmou o executivo.