SORRISO BONITO

Ela quis sorriso perfeito, ficou com mau hálito e ‘branco chapado horrível’.

“Meus dentes ficaram artificiais, desproporcionais e com um branco chapado horrível que claramente dava para ver que era falso. Isso me abalou psicologicamente, não queria mais sorrir”. A seguir, ela conta como foi esse processo e como fez a reversão para os dentes naturais.

“Desde criança meus dentes tinham uma pigmentação escura devido a um problema de nascença que desconheço o motivo, mas era algo parecido com as manchas causadas pelo excesso de flúor (fluorose).

A solução para camuflar era aplicar resina, mas ela manchava com o tempo, principalmente quando tomava bebidas escuras ou comia algo com catchup. Às vezes, mordia algum alimento com força e isso lascava o material. Ia ao dentista com frequência para resolver esses problemas.

Na adolescência, me tornei uma pessoa insegura com relação aos meus dentes. Não cheguei a sofrer bullying, mas ouvia comentários do tipo: ‘Por que você não vai arrumar seus dentes?’. Ninguém entendia que meus dentes eram daquele jeito por causa de um problema de nascença e que não tinha muito o que fazer.

Aos 20 anos, decidi colocar lentes de contato dentais porque sonhava em ter um sorriso bonito. Na época, achei que os dentes ficaram grandes e desproporcionais, mas relevei o resultado.

Dez anos depois, procurei um segundo profissional, um dentista famoso que prometia um resultado satisfatório, um sorriso perfeito com poucas sessões. O dentista disse que ia me “presentear” com uma nova peça no mercado feita de zircônia, que era um material mais caro por ser natural.

Segundo ele, isso ia trazer harmonia para o meu sorriso, mas um tempo depois descobri que a zircônia não fazia isso, pelo contrário, trouxe uma discrepância grande.

Quando as minhas lentes chegaram, parecia que elas vinham de lotes que as fábricas despacham para todo mundo. Percebi que elas eram brancas e chapadas, sem naturalidade. Não havia diferença de cor ou contraste, o que me deixou desconfortável, mas acabei confiando no dentista.

Após realizar o procedimento, meus dentes ficaram artificiais, desproporcionais e com um branco chapado horrível que claramente dava para ver que era falso. Isso me abalou psicologicamente, não queria mais sorrir. Para disfarçar, colocava a mão na boca para sorrir.

“Tive infecção, sentia dor, sangramento e fiz dois canais”
Além da questão estética, a forma como o dentista colocou as lentes de contato dentais me gerou um problema de saúde. Ele colocou a lente sobreposta à minha gengiva para dar a sensação de amplitude e deixar o dente mais longo.

Ele me orientou a passar fio dental entre a gengiva e a cerâmica. Achei estranho, pois não tinha como limpar, mas ele bateu o pé dizendo que era pela estética. Não conseguia escovar os dentes direito e nem passar o fio dental, isso fez com que juntassem muitas bactérias, o que me causou uma inflamação e passei a ter mau hálito.

Sentia muita dor e sangramento na gengiva. Tive que tomar anti-inflamatório e intercalar com probióticos por mais de um mês. Todo esse processo foi traumatizante, me impactou na vida pessoal e profissional. O dentista não admitiu o erro dele, não me acolheu e não tentou amenizar e nem resolver a situação.

Por indicação de uma amiga, busquei um outro dentista que, ao avaliar o meu caso, disse que primeiramente precisaria tratar os problemas de saúde e a função da boca —ajustar a mordida e a mastigação— para depois corrigir a parte estética.

Na primeira etapa do tratamento, tive que fazer dois canais porque as lentes de contato dentais haviam desgastado demais os meus dentes, deteriorando o esmalte e a dentina, ficando quase no nervo.

Trabalho como assessora de investimentos, atendo clientes de alto poder aquisitivo e preciso estar sempre elegante e bem vestida. Sentia vergonha de conversar com meus amigos e clientes por causa do mau hálito e da aparência ‘fake’ dos dentes. Tudo isso me remeteu aos traumas que já tinha passado na infância e na adolescência.

Na segunda etapa do tratamento, após restabelecer a saúde dos meus dentes, da gengiva e a funcionalidade da mordida, partimos para a reversão.

Precisei colocar novas lentes de contato por causa da pigmentação escura nos dentes, mas dessa vez elas foram confeccionadas de forma artesanal para manter o formato natural da minha dentição. Todo o tratamento durou três meses.

Ao passar por tudo isso, aprendi que devemos buscar profissionais experientes e de referência no mercado, e sempre desconfiar quando a promessa parece boa demais.

Sorriso perfeito em poucas sessões? Hoje em dia me sinto feliz, recuperei minha autoestima e quero mostrar o meu sorriso para todo mundo.”

Lentes de contato dentais: os riscos do sorriso “perfeito”
As lentes de contato dentais prometem corrigir imperfeições e harmonizar o sorriso, mas têm sido usadas como um atalho para a estética idealizada. O desejo pelo branco extremo, impulsionado pelo marketing nas redes sociais, leva muitas pessoas a buscar esse tratamento sem real necessidade.

“Criou-se um novo modelo de estética em que o extremamente branco faz sucesso para algumas pessoas. A grande questão é que os dentes naturais não têm essa coloração e não têm a anatomia que muitos estão fazendo”, afirma Camillo Anauate Netto, professor doutor e membro da Câmara Técnica de Dentística do CROSP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo).

Prós e contras das lentes de contato dentais
Vantagens

Uniformizam a arcada dentária e recuperam a cor do esmalte.

Melhoram a estética de dentes com muitas restaurações.

Possuem alta durabilidade

Preenchem espaçamentos (diastemas).

Restauram o tamanho de dentes desgastados ou com erosão.

Desvantagens

Processo irreversível, principalmente no caso das facetas de porcelana.

Exige desgaste dos dentes naturais.

Necessidade de usar placa de proteção dental para evitar danos

Riscos de um resultado insatisfatório

O cirurgião-dentista Marcelo Kyrillos alerta que o problema não está na técnica em si, mas na popularização indiscriminada do procedimento.

Há um mau uso da tecnologia em um número significativo de clínicas. Com a alta demanda, o processo ficou robótico em muitos locais, resultando nesses dentes que vemos agora: brancos, enormes, fakes. É como se viessem lotes de dentes para uma linha de produção de bonecos.
Marcelo Kyrillos, cirurgião-dentista

Além da estética artificial, há riscos para a saúde bucal. Segundo os especialistas, desgastes desnecessários diminuem a vida útil dos dentes e podem causar inflamações gengivais, retrações, dificuldades de higienização e até perda dentária. O alongamento exagerado também compromete a mordida e a fala.

“Muitos pacientes apresentam sérios problemas de saúde bucal que foram maquiados pelas lentes. Quando vemos, há dor nos dentes e no sistema temporomandibular, e o motivo não está aparente. Temos que fazer e refazer exames, desmanchar o trabalho do outro profissional”, explica Kyrillos.

Reversão: é possível voltar ao natural?

Muitos pacientes se arrependem e buscam reverter o procedimento. A retirada das lentes pode ser feita a laser, mas em alguns casos são necessários enxertos gengivais para restaurar a estrutura perdida.

O processo de reversão exige um trabalho artesanal. “Utilizamos um software com um banco de dados de dentes naturais para recuperar o formato e a harmonia facial do paciente. Também recuperamos a cor original com uma aplicação artesanal de cerâmica específica”, detalha Kyrillos, coautor dos livros “Sorriso Modelo – o Rosto em Harmonia” e “A Arquitetura do Sorriso” e sócio fundador da clínica Ateliê Oral.

Alternativas mais seguras
Para Camillo Netto, a melhor opção é preservar os dentes naturais com prevenção, escovação adequada e uso do fio dental.

Quem busca alinhar o sorriso pode recorrer ao tratamento ortodôntico, e para quem deseja um tom mais claro, o clareamento dental é uma alternativa menos invasiva.

“Esta é a forma mais conservadora, saudável e barata de manter os dentes naturais sem que estejam cobertos por material artificial”, conclui o professor.

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