“Tem diferença entre correr na esteira ou na rua?” Essa é uma dúvida comum de quem começa a praticar corrida. E a dúvida faz todo sentido: cada opção tem suas vantagens e desvantagens.
A coisa começa pela parte mental e motivacional. Provavelmente você já teve a sensação de que estava correndo há um tempão na esteira, mas ao olhar para o painel do aparelho viu que tinha feito só alguns poucos minutos de exercício. No treino na rua geralmente não há esta percepção, pois a atividade é mais prazerosa e menos monótona.
Sergio Gregório da Silva, do Departamento de Educação Física da UFPR (Universidade Federal do Paraná, dia que estudos confirmam que a sensação de prazer é maior durante a corrida na rua. Ele liderou uma pesquisa publicada em 2011 na revista Medicine & Science in Sports & Exercise que comparou os efeitos psicológicos do exercício em ritmo livre nos dois ambientes. O resultado: na rua, a caminhada causou menos percepção de exaustão mesmo sendo em velocidade mais rápida do que a esteira.
Outro estudo, realizado por universidades do Reino Unido, concluiu que exercícios ao ar livre estão associados a uma maior sensação de revitalização e outros sentimentos positivos, além de reduzir a tensão, a confusão, a raiva e os sintomas depressivos.
“A nossa tensão na rua se volta para um número enorme de fatores —ao meio ambiente, aos carros que estão passando, aos sons”, explica Silva. Já a esteira pode ser percebida para muitos corredores como monótona e menos estimulante. “Poucas pessoas toleram passar uma, duas horas.”
Correr na rua também exige mais do corpo em alguns momentos. Subidas, vento e piso irregular fazem o corredor gastar mais energia e exigir que a musculatura trabalhe de forma diferente em alguns momentos —para saltar uma guia ou um buraco, por exemplo. Quem treina para provas de rua, por exemplo, se beneficia mais ao correr no mesmo tipo de terreno da competição.
Mas a esteira tem suas vantagens. O equipamento oferece praticidade, especialmente em dias de chuva, frio ou calor extremo. É uma boa opção também para quem se sente inseguro ao correr na rua ou está começando a se exercitar…
Outro ponto positivo é poder controlar com exatidão velocidade, inclinação, distância e gasto calórico. Ainda não tem obstáculos que podem causar torções, como buracos.
Esforço físico
Quando se trata do esforço físico demandado pelas duas modalidades, há discordâncias. Um estudo feito com mulheres de meia-idade e publicado na Nature indicou que, em ritmo intenso, o gasto energético é maior na rua que na esteira.
Especialistas como Ana Paula Simões, ortopedista, traumatologista e médica do esporte, e Luiz Eduardo Ritt, cardiologista e presidente do Departamento de Ergometria, Exercício, Cardiologia Nuclear e Reabilitação Cardiovascular da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) explicam que isso provavelmente ocorre pois o movimento giratório da lona da esteira reduz a necessidade de que o corpo realize a propulsão, reduzindo o esforço.
Além disso, como já falamos, na rua a resistência do vento pode aumentar o esforço e há outros fatores que podem tornar o exercício mais exigente, como desníveis, obstáculos, acelerações para voltar ao ritmo após diminuir a velocidade por causa de um pedestre, um carro, um cachorro…
Porém, um estudo de revisão publicado na revista Springer Nature Link concluiu que, tanto na corrida na esteira quanto na rua, o corpo se movimenta e os músculos são ativados de maneira parecida –quando não há desníveis, buracos etc.
E tem até um divulgado na Springer Nature Link, com participantes homens universitários, que mostrou que o maior gasto energético foi na esteira.
Segundo Gabriela Souza de Vasconcelos, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal Goiás (UFG), essas variações nos trabalhos científico decorrem das diferentes condições de cada laboratório e das populações escolhidas como amostra.
A melhor opção é uma questão pessoal
A escolha entre correr na rua ou na esteira depende menos da diferença da exigência física entre as duas modalidades e mais das necessidades de cada pessoa, de acordo com Jackson Chan Vianna, professor da Faculdade de Educação Física da UnB (Universidade de Brasília).
Um atleta que precisa fazer treinos longos, por exemplo, pode se beneficiar mais da rua, onde há mais estímulos e menos monotonia. Já uma mulher idosa, que passou a vida constrangida em se exercitar em público, pode encontrar na esteira um espaço mais confortável para começar —o que, segundo ele, pode ser decisivo para a saúde e qualidade de vida dessa pessoa.