Comer batata frita oferece riscos maiores de desenvolver diabetes tipo 2 do que outras formas do alimento, como as batatas assadas, cozidas ou em forma de purê. A conclusão é de um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, publicado no periódico The British Medical Journal no início do mês.
O que aconteceu
Cientistas queriam entender se há relação entre o consumo de batatas e grãos e o diabetes tipo 2. Para isso, eles analisaram as dietas de 205.107 pessoas que participaram de três amplos estudos por mais de 30 anos, respondendo questionários regulares sobre a frequência com que consumiam esses dois tipos de alimentos, além de seu estado de saúde, estilo de vida e fatores demográficos.
Dos mais de 200 mil participantes analisados na primeira etapa do trabalho, quase 22,3 mil desenvolveram diabetes tipo 2 em três décadas. Além da alimentação, cientistas criaram modelos matemáticos que “pesavam na balança” as diferenças raciais/étnicas entre os pacientes, assim como fumo, consumo de álcool, atividade física, menopausa, histórico familiar de diabetes, índice de massa corporal, situação socioeconômica e uso de hormônios, multivitamínicos e drogas para hipertensão e colesterol alto…
Assim, eles determinaram que três porções semanais de batatas fritas aumentava o risco de ter diabetes tipo 2 em 20%. Já o consumo de batatas assadas, cozidas ou purês não apresentou um risco significativo de adoecer.
A mensagem de saúde pública aqui é simples e poderosa: pequenas mudanças na nossa dieta diária podem ter um importante impacto no risco de ter diabetes tipo 2. Limitar as batatas —especialmente as fritas— e escolher fontes saudáveis de carboidrato com grãos integrais pode ajudar a diminuir o risco de diabetes tipo 2 por toda a população.
Walter Willett, coautor do estudo e professor de epidemiologia e nutrição em Harvard, em comunicado
Entretanto, análise tem limitações. O estudo é observacional, ou seja, as descobertas podem ser influenciados por fatores de confusão residuais ou não mensurados. Além disso, a pesquisa envolveu exclusivamente profissionais de saúde e não levou em conta variações nos métodos de cozimento, como o uso de manteiga, creme ou alternativas à base de plantas, que podem ter efeitos mistos no risco de diabetes…
Batata ou arroz?
Cientistas também analisaram como os grãos integrais ou refinados afetaram o organismo de pessoas em quatro continentes. Eles fizeram duas análises separadas: uma baseada em dados de 13 grupos que informaram consumo de batatas e 11 grupos que informaram a ingestão de grãos integrais. Cada análise envolveu mais de 500 mil participantes e 43 mil diagnósticos de diabetes tipo 2…
Eles descobriram que substituir as batatas não fritas por grãos integrais —seja em forma de massa, pão ou grãos cozidos— pode reduzir o risco de ter diabetes tipo 2 em 4%. Se a substituição for das batatas fritas pelos grãos integrais, a redução é de 19%.
Arroz branco seria “mais perigoso”. Trocá-lo por batatas fritas diminui o risco de diabetes tipo 2. O mesmo vale para outros grãos refinados, como a farinha branca.
No entanto, a troca de qualquer tipo de batata por vegetais sem amido também reduz a incidência de diabetes. A queda também foi vista ao trocar as batatas fritas por legumes ou quaisquer outros vegetais —com ou sem amido…
Estamos mudando a conversa de ‘batatas são boas ou ruins’ para uma pergunta mais útil e com nuances: como elas são preparadas e o que podemos comer no lugar delas?
Seyed Mohammad Mousavi, pós-doutorando de Harvard e autor principal do estudo
Devo cortar a batata ou o arroz da minha alimentação?
Deixar de consumir carboidratos ou restringir em excesso oferece diversos riscos para a saúde. Eles são fontes de energia e contribuem com várias funções fisiológicas. A falta de carboidratos causa: queda de energia e alteração do desempenho físico; elevação do risco de morte por doença cardiovascular; constipação; perda de massa muscular; piora no desempenho cognitivo; deficiências nutricionais; piora do humor; deficiências de crescimento de crianças e adolescentes; piora de problemas renais…
Mas pegue leve nos carboidratos simples. Carboidratos simples (como açúcar, refrigerantes e arroz branco) são absorvidos rapidamente e causam picos glicêmicos. Ou seja, o aumento imediato das taxas de açúcar no sangue, seguidos de cansaço. Já os carboidratos complexos (como grãos integrais, feijão, lentilha) são ricos em fibras e/ou amido, aumentam a saciedade e são mais saudáveis.
A recomendação geral é que 45% a 65% das calorias do dia venham dos carboidratos. Mas é vital se atentar às quantidades e ao preparo dos alimentos para garantir a alimentação mais saudável possível.
Como consumir estes alimentos?
Opte por mais grãos integrais, legumes e leguminosas. São alimentos que contêm fibras, vitaminas e minerais essenciais, além de proporcionar uma liberação mais lenta de energia, mantendo os níveis de glicose no sangue mais estáveis.
Diminua o consumo de doces e bebidas açucaradas. Além de não fornecer muitos nutrientes, estes carboidratos simples provocam os picos de glicose no sangue mencionados.
Consuma mais frutas frescas. Elas têm mais fibras, vitaminas e minerais.
Fique de olho nas porções. Evite exagerar na quantidade de carboidratos. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que adultos consumam pelo menos 400 gramas de frutas e vegetais e 25 gramas de fibras diariamente, em uma dieta de 2.000 calorias.
Consuma proteínas e gorduras saudáveis, principalmente nas refeições que contenham carboidratos. Essa atitude mantém os níveis de glicose estáveis e proporciona saciedade.
Evite alimentos processados. Eles costumam ter quantidades excessivas de carboidratos.
Mantenha a hidratação em dia. A água ajuda na digestão e absorção dos carboidratos…