Viatina, a segunda vaca mais cara do Brasil, avaliada em R$ 21 milhões, foi clonada. A bezerra nasceu há três meses e recebe cuidados em uma clínica de Uberaba (MG).
Por que a clonagem foi feita
Viatina é descendente de pais campeões. Ela tem características que impressionam até mesmo os leigos —sua linha de dorso é considerada impecável, com comprimento ideal, costela aberta, ossatura forte e aprumos perfeitos a definem como um animal de raça pura. “O que realmente torna a fêmea tão especial é sua genética impecável”, disse Lorrany Martins, presidente da Agropecuária Napemo, uma das proprietárias do animal, em entrevista no ano passado.
Ela vive uma vida de luxo em Minas Gerais e já chegou a ser inscrita no Guiness World Records. Em maio de 2024, uma bezerra dela foi leiloada por R$ 3 milhões. A clonagem possibilita que os planos se expandam “em dobro” —já que, agora, serão duas vacas iguais em reprodução.
Os animais mais valiosos, dentre outros aspectos, pelo seu maior valor genético, são demandados a produzirem um maior número de filhos e de uma forma mais rápida. Portanto, a clonagem contribui com isso.
Maurício Machaim Franco, pesquisador da Embrapa e médico veterinário
Viatina perdeu posto de mais cara no ano passado. O atual posto de vaca mais valorizada do mundo é de outra nelore, a Carina FIV do Kado, avaliada em R$ 24 milhões. Viatina tem seis anos, enquanto Carina tem três —o que pode gerar ainda maiores valores no futuro.
Como é o processo de clonagem
Não há junção de óvulo e espermatozoide. Para obter o material genético completo do animal que vai ser clonado é feita uma biópsia da pele para obter as células. Depois, um óvulo tem seu material genético retirado e substituído pelo que foi coletado.
Pequenos choques simulam a fecundação. “Utiliza-se de produtos químicos ou pequenos choques elétricos nesse material (óvulo e célula) para simular o processo de fecundação. Assim se forma um embrião”, explica o pesquisador da Embrapa. Todo o procedimento leva em torno de dez dias, se as células já estiverem em laboratório.
Etapa mais crítica é na fusão do óvulo e célula. Isso acontece porque, naturalmente, o óvulo reconhece o DNA de um espermatozoide. Na clonagem, ele recebe a célula com o material genético já completo do pai e da mãe. “Mesmo assim, o embrião pode se desenvolver normalmente até os sete dias de vida”, completa Franco.
Transferência para “barriga de aluguel”. Depois de sete dias, o embrião é transferido para uma vaca receptora —que funciona como uma barriga de aluguel. O nascimento acontece entre 285 e 293 dias depois, a depender da raça do animal.
Feto fruto da clonagem não rompe bolsa sozinho. Naturalmente, é o feto que “avisa” a mãe que está na hora de nascer —quase como o trabalho de parto humano. Mas, na clonagem, isso não acontece. “Não sabemos muito bem ainda o porquê”, explica o especialista. Por isso, muitas vezes tem que ser feita uma cesariana.
O fato de ser uma cesariana pode demandar mais cuidados com os bezerros nascidos. E uma fragilidade qualquer pode comprometer a vitalidade desse animal nas primeiras semanas de vida.
Maurício Machaim Franco
Clonagem tem eficiência baixa e custo elevado. “Esse é um dos motivos pelos quais os animais mais valiosos são os principais animais a serem clonados”, explica o pesquisador. A taxa de eficiência da clonagem gira em torno de 4%, considerada muito baixa em comparação à fertilização in vitro, por exemplo.
Apesar de ser um procedimento relativamente novo, temos que considerar que o primeiro clone de um mamífero adulto, a ovelha Dolly,ocorreu há quase 30 anos. O que faz essa taxa ser tão baixa é a nossa ainda pouca compreensão do porquê o óvulo não reconhece bem o DNA da célula.
Maurício Machaim Franco
Cerca de 50 clones de zebuínos são feitos no Brasil por ano. Segundo o pesquisador, algumas das raças que representam esse grupo, são: Nelore, Gir, Guzerá e Sindi. A vaca Vitória, da Embrapa, foi o primeiro bovino clonado no Brasil, em 2001.