O crescimento no número de partidas disputadas por temporada devido ao surgimento de novas competições e à ampliação de torneios já tradicionais podem levar a uma interrupção do futebol.
Ameaças de uma greve generalizada dos atletas (pelo menos os da elite europeia) como resposta ao calendário cada vez mais inchado dos clubes e seleções têm se tornado frequentes no discurso de alguns dos grandes nomes da modalidade.
Na semana passada, o volante Rodri, campeão europeu com a Espanha, protagonista do Manchester City na conquista das quatro últimas edições do Campeonato Inglês e forte candidato aos prêmios de melhor jogador do planeta na temporada passada, afirmou que “estamos próximos” de ver uma greve que paralisará o futebol mundial.
Nos dias seguintes, o goleiro brasileiro Alisson (Liverpool), o lateral direito Daniel Carvajal (Real Madrid) e o defensor francês Jules Koundé (Barcelona) aproveitaram entrevistas coletivas pré-jogo para criticar o inchaço no número de jogos e aderir ao movimento puxado pelo meia espanhol.
Até mesmo os dois técnicos mais badalados da atualidade, o italiano Carlo Ancelotti (Real) e o catalão Pep Guardiola (City) colocaram-se ao lado dos jogadores e apoiaram a realização de uma possível greve.
Por que agora?
O movimento grevista é uma resposta à reformulação da Liga dos Campeões da Europa e à criação do Super Mundial de Clubes, maiores novidades do calendário do futebol para esta temporada.
Com a ampliação da Champions e a estreia de um novo torneio global organizado pela Fifa, os clubes europeus podem disputar até dez partidas a mais em um ano do que o limite máximo possível até 2023/24.
City e Real, por exemplo, podem alcançar a marca de 79 partidas ao longo da atual temporada, número maior do de qualquer time brasileiro no ano passado -quem mais jogou foi o Fortaleza, com 78 compromissos.
Além disso, como o Mundial de Clubes será jogado entre junho e julho, ele roubará parte das férias dos jogadores envolvidos. E isso em um ano em que eles deveriam ter um descanso maior para se preparar para a Copa do Mundo, que será disputada 12 meses mais tarde.
O que dizem os sindicatos?
O FifPro, sindicato global dos jogadores e parceiro da Fifa em várias iniciativas, recomenda que nenhum atleta profissional de futebol deva disputar mais que 55 partidas (já na soma de clubes e seleções) durante uma temporada.
Mas, como esse limite vem sendo completamente ignorado na prática, outras entidades que lutam pelos direitos dos jogadores já começaram a tomar atitudes mais concretas.
As associações nacionais de atletas de futebol da Inglaterra e da França resolveram processar a Fifa por discordarem da forma como o calendário das seleções é montado. Já um grupo de 30 ligas europeias se juntou para apresentar à Comissão Europeia uma reclamação formal contra a entidade organizadora do Super Mundial de Clubes.
Em tempo: Rodri, o primeiro grande nome do futebol mundial, a se manifestar por uma greve acabou sendo vítima dos efeitos do calendário inchado. No domingo, durante o clássico contra o Arsenal, o volante do City sofreu uma grave lesão de joelho que o tirará dos gramados por um longo tempo. A previsão é que ele só retorne ao futebol na próxima temporada.