Medicamentos análogos ao GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, só poderão ser vendidos nas farmácias com retenção de receita médica a partir de hoje. Eles são usados no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.
O que aconteceu
Medida foi determinada pela Anvisa em abril. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicou uma instrução normativa com a lista de medicamentos que só poderiam ser usados sob prescrição e retenção da receita. Além de antimicrobianos, estavam semaglutida, liraglutida, dulaglutida, tirzepatida e lixisenatida.
Receita tem prazo de validade. Conforme a regra, o receituário deve estar dentro do prazo de 90 dias, a contar da data de emissão. Segundo a Anvisa, o objetivo da norma é tentar conter o uso indiscriminado desses remédios que, muitas vezes, são adquiridos sem prescrição e para uso fora das orientações da bula…
Decisão foi tomada a partir de dados de vigilância. Dados de notificação no Vigimed, sistema disponibilizado pela Anvisa para que as pessoas possam reportar suspeitas de eventos adversos relacionados a medicamentos e vacinas, mostraram que, numa análise comparativa, foram muito mais eventos adversos relacionados ao uso fora das indicações aprovadas pela agência no Brasil do que os dados globais.
O que muda?
Ozempic, Mounjaro, Saxenda e Wegovy podiam ser vendidos com receita comum. Bastava ir à farmácia para comprar as medicações, que sempre foi tarja vermelha…
Agora, será necessário levar duas vias da receita, sendo que uma delas ficará retida no estabelecimento. Mas médicos afirmam que dificilmente a receita era exigida no momento da compra. “Era só você chegar na farmácia, sem receita, e comprar. Era uma coisa totalmente caótica e desorganizada”, disse o endocrinologista Fábio Moura, em entrevista anterior a VivaBem.
Médicos comemoraram decisão. Profissionais que tratam pessoas com diabetes e obesidade esperam mais controle e diminuição do uso indiscriminado dos remédios. Um dos grandes problemas relatados é da automedicação, que reforçou o uso irregular dos remédios sem acompanhamento médico e fora da finalidade…
A decisão também pode evitar que os medicamentos faltem para quem precisa. Médicos relatam que, em muitas situações, pacientes que necessitam das medicações não as encontram, um problema causado, em parte, pela busca por pessoas que não têm doenças metabólicas e querem usar o remédio…
O que dizem as empresas
Eli Lilly, fabricante do Mounjaro, disse que a medida busca controle. No entanto, não responde a outro grande vetor de risco à segurança dos pacientes: o crescimento do mercado paralelo de análogos de GLP-1 manipulados em escala industrial, “que potencialmente poderá ter uma procura ainda maior a partir dessa decisão. Sendo assim, a Lilly acredita que as medidas contra a manipulação irregular, em escala industrial, precisam ser adotadas simultaneamente às ações de retenção de receita.”
Novo Nordisk, que produz Ozempic e Wegovy, diz que recebeu a decisão “com naturalidade”. “A empresa compartilha das mesmas preocupações da Anvisa quanto ao uso irregular de medicamentos e fora de indicação em bula, e reforça que a segurança do paciente é seu principal compromisso.”