Levantamento obtido, mostra que quatro dos dez medicamentos mais comercializados no Brasil tratam hipertensão; tadalafila aparece em quinto lugar.
Quatro dos dez remédios genéricos mais vendidos no Brasil têm como indicação o tratamento de hipertensão. É o que mostra um levantamento da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac) obtido pelo g1.
Além deles, medicamentos para disfunção erétil, anti-inflamatório, analgésico e redutor de colesterol compõem a lista.
A prevalência de substâncias que controlam a pressão arterial segue a alta no número de brasileiros que têm a doença: cerca de 30% da população do país é hipertensa, e esse número dobra quando analisadas pessoas acima de 60 anos.
“A hipertensão arterial sistêmica é a mais frequente entre as doenças crônicas comuns”, explica o pesquisador da Unidade Clínica de Aterosclerose do Incor e cardiologista da Clínica Sartor, Henrique Trombini.
Ter a pressão arterial elevada, ele explica, pode gerar consequências mais graves, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca.
“A hipertensão é praticamente uma epidemia mundial”, ele diz. Justificada, principalmente, pelos hábitos alimentares que envolvem cada vez mais alimentos ultraprocessados. Sedentarismo e obesidade também são causas comuns da doença.
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Doença assintomática
Coordenador da cardiologia do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, Carlos Rassi detalha que a hipertensão é uma doença silenciosa, que costuma apresentar sintomas somente quando já está avançada.
“Pela ausência de sintomas iniciais, é importante realizar exames anuais. Estima-se que, de todas as pessoas hipertensas no Brasil, 30% não sabem que têm a doença”, diz o médico.
O valor aceitável de pressão arterial, explica o especialista, varia. Ainda assim, o ideal é ter um número abaixo de 12/8.
“A hipertensão gera um estresse nas paredes dos órgãos, podendo resultar em consequências graves para o coração, rins, aorta e para o tecido cerebral”, explica Rassi. “Praticamente todos os órgãos do corpo são afetados pela pressão arterial sistêmica.”
Hipertensão não controlada pode gerar:
- Nefropatia hipertensiva, perda renal que pode fazer o paciente precisar de hemodiálise.
- Insuficiência cardíaca.
- Aneurisma de aorta.
- Infarto agudo do miocárdio.
- Acidente Vascular Cerebral.
- Cegueira (retinopatia hipertensiva).
Presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão, Luis Cuadrado atrela o alto índice de pessoas hipertensas ao consumo excessivo de sódio. Alimentos ultraprocessados, cada vez mais presentes na alimentação, são ricos em sódio.
“Nada substitui o arroz feijão da mesa do brasileiro. Essa é a base da alimentação, junto a verduras e legumes. Ultraprocessados devem ser consumidos sob caráter excepcional”, diz Cuadrado.
Ainda assim, o médico ressalta a importância da medicação contra a hipertensão. “É uma doença crônica que pode ser controlada, e para isso há uma gama de medicamentos disponíveis”, ele afirma.
Todos os medicamentos para hipertensão citados nos dados desta reportagem podem ser adquiridos sem custo via farmácia popular.
Uso recreativo de tadalafila
Um levantamento exclusivo feito mostrou que a venda de tadalafila, substância que trata disfunção erétil, cresceu 20 vezes em dez anos.
O medicamento aparece em quinto entre os genéricos mais vendidos, e no top-10 há também o remédio-irmão, a sildenafila, comercialmente vendido sob o nome ‘Viagra’.
Especialista em Clínica Médica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE), Fábio Campos diz que cada vez mais pessoas têm usado esse tipo de medicação de forma recreativa.
À reportagem, ele explica que homens cada vez mais jovens –e sem disfunção erétil– tem se automedicado com tadalafila e sildenafila para aumentar a performance sexual.
“É um problema grave de saúde pública porque gera um vício psíquico. Esses homens começam a pensar que dependem do medicamento para ter relação sexual”, diz.
“Haver dois medicamentos contra disfunção erétil na lista dos genéricos mais vendidos é um retrato do uso recreativo, uma vez que disfunção erétil está longe de ser uma das principais doenças do brasileiro.”
Tanto a tadalafila quanto a sildenafila têm restrições a pacientes com coronariopatias. “Em homens com doenças cardiovasculares, aumenta severamente as chances de infarto. É um remédio que precisa ser usado apenas sob prescrição médica”, ele explica.